A redação do Justiça em Foco tem recebido, nas últimas semanas, uma quantidade crescente de relatos apontando graves falhas nos atendimentos realizados pela perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). As denúncias indicam um padrão de desorganização e morosidade que compromete o direito de milhares de brasileiros ao benefício por incapacidade — em especial daqueles em situação de fragilidade clínica e financeira.
Entre os casos que chegaram à redação, um deles chama atenção pela sequência de episódios e pelo risco real de colapso pessoal e familiar. Trata-se do segurado RSR, de 47 anos, celetista, assessor parlamentar contratado pela CLT e atuante desde 2013 em assuntos confederativos em Brasília/DF. Casado e pai de três filhos — dois em idade escolar e uma bebê ainda em amamentação — RSR também é responsável pelo pagamento de pensões alimentícias de relações anteriores.
Em setembro de 2023, RSR sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico na artéria cervical direita, sendo internado no Hospital Pronto Norte. Posteriormente, em agosto de 2024, foi vítima de um AIT (acidente isquêmico transitório), que resultou em nova internação no Hospital Santa Helena. Laudos médicos confirmam sequelas neurológicas importantes. O INSS reconheceu inicialmente sua incapacidade, concedendo benefício temporário até janeiro de 2025.
No entanto, mesmo sem liberação médica para retorno ao trabalho, o pedido de prorrogação do benefício, protocolado em 14 de janeiro, resultou na suspensão imediata dos pagamentos. O INSS respondeu apenas em fevereiro, informando que o segurado deveria aguardar nova perícia, marcada para 31 de março. Quando a data chegou, a perícia foi adiada, sem justificativa, para 4 de junho de 2025 — mantendo RSR sem qualquer remuneração ou benefício desde então. As consequências foram imediatas. Desde fevereiro, pensões estão atrasadas, com risco de sanções judiciais. Aluguel, água, luz e internet acumulam faturas vencidas. Cartões de crédito foram bloqueados, empréstimos entraram em inadimplência. A família mergulhou em insolvência total.
E então, o quadro clínico se agravou. No dia 25 de março de 2025, RSR sofreu um segundo AVC, desta vez na artéria carótida. Submetido à cirurgia e internação prolongada no Hospital Santa Helena, permaneceu hospitalizado até 17 de abril. Recebeu alta médica, mas encontra-se debilitado, sem condições físicas para exercer qualquer atividade profissional, sem amparo financeiro e sem suporte estatal efetivo.
O caso de RSR não é isolado. Pelo contrário, ele revela com nitidez os efeitos de um sistema previdenciário paralisado por entraves administrativos, incapaz de oferecer respostas em tempo hábil a quem mais precisa. A morosidade no agendamento de perícias e a ausência de mecanismos emergenciais de apoio expõem famílias inteiras à miséria e à vulnerabilidade extrema.
Trata-se de um drama humano que exige sensibilidade, compromisso e ação imediata por parte do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi. Enquanto metas são empurradas e prioridades seguem indefinidas, milhares de brasileiros adoecem, esperam e sofrem — à mercê de um sistema paralisado. A ausência de regulamentação clara pela Casa Civil, pelo Ministério da Previdência e pelo Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos têm prolongado o sofrimento de quem já enfrenta a dor da doença e o peso do abandono.
Quantos ainda terão que esperar em sofrimento? Até quando cidadãos com incapacidade comprovada seguirão sem resposta? Até quando o sistema continuará reduzindo histórias humanas a meros números em uma fila que não anda?
A redação aguarda o posicionamento oficial que vier a ser encaminhado pela assessoria de imprensa.
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