Por Caio Tibério da Rocha
Os resultados da COP29, realizada em Baku, no Azerbaijão, mesmo distantes do Brasil, ressoam profundamente com os desafios que enfrentamos. Entre as diversas iniciativas apresentadas, destaco um projeto que chamou minha atenção tanto por minha experiência como extensionista quanto pelo meu trabalho no IICA, um organismo especializado em agricultura vinculado à OEA, cuja essência é a cooperação técnica. Refiro-me à plataforma digital desenvolvida pelo governo do Rio Grande do Sul, que se propõe a realizar um diagnóstico estratégico dos municípios para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas.
Essa iniciativa, chamada de “mapa de caminho climático”, abrange oito eixos de gestão: administração, governança, inventário de gases de efeito estufa, gestão de riscos, plano de ação climática, planejamento sustentável e implementação de leis de créditos de carbono. Atualmente, 492 dos 497 municípios do RS já fazem parte de consórcios de mudanças climáticas, que se tornaram pré-requisitos para o acesso a recursos financeiros em áreas como saúde e educação. Este é um exemplo de como ações bem estruturadas podem abrir caminhos para alcançar o “prêmio” do crédito de carbono.
O projeto parte de um diagnóstico inicial, com foco na viabilidade e sustentabilidade a longo prazo. Contudo, ele levanta questões cruciais: quantas escolas no Brasil estão abordando essas temáticas? O que está sendo ensinado? E, mais importante, esse ensino é sustentável?
Precisamos garantir que o acesso a recursos seja público e que o financiamento dessas ações apoie quem preserva e cuida, enquanto os grandes poluidores – localizados principalmente na Europa, Ásia e América do Norte – sejam corresponsáveis pelo financiamento global. O Brasil, sendo a 10ª economia mundial e líder em exportações agrícolas, é um gigante territorial e um exemplo de diversidade, ainda pouco explorado em sua total capacidade rentável.
Porém, para que projetos como esse tenham impacto real, é essencial a participação de alunos e professores em iniciativas climáticas. O setor agrícola, um dos mais prósperos do país, exige capacitação e treinamento contínuos, envolvendo cooperativas agrícolas, secretarias municipais de meio ambiente e agricultura, e o Serviço Oficial de Extensão Rural Brasileiro. Todo o sistema educacional, em nível estadual e nacional, deve se alinhar a essas ações.
A COP29 não apenas nos apresentou desafios, mas também nos mostrou que é possível construir soluções locais que inspirem o mundo. É hora de transformarmos conhecimento e cooperação em ação.
Caio Tibério da Rocha | Engenheiro Agrônomo | Doutor em Ciência e Tecnologia | Consultor Internacional para o Mercosul no Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).